O dia em que percebi o tamanho da minha força como mãe!

Arquivo pessoal – reprodução não autorizada

Já parou para pensar como a maternidade é interessante? A todo momento estamos no meio de um furacão, achando que não temos forças, nem discernimento para nada e a certeza de que estamos no limite, masssssss de repente algo acontece e temos que mostrar uma força descomunal, que só descobrimos nos momentos de perrengue mesmo, ou seja, você não sabe da existência dessa força, nem pensa nela, mas ela está lá a todo momento e está pronta para te ajudar a enfrentar as mais diversas situações.

E aconteceu comigo! Rafa com 2 anos de idade, eu tentando aprender a lidar com o famoso terrible two, aqui chegamos no nível máximo de explosão de personalidade nessa fase, eu já tinha aprendido um pouquinho em como ser mãe e cuidar de um bebê e………

Rafa em uma brincadeira quebrou o dentinho superior da frente.

A cena não podia ter sido pior, eu estava no banho quando meu marido entrou no banheiro com ela no colo, quando olhei para a boquinha dela cheia de sangue, lógico, as pernas amoleceram e o Paulo já veio explicando que ela tinha batido a boca, até então desconfiamos que poderia ser apenas um corte nos lábios, essa região sangra bastante mesmo quando machucamos, mas não, depois de estancar o sangue é que veio a real notícia, ela havia quebrado o dentinho.

Paulo voltou para a sala com a Rafa para procurar o pedaço do dentinho e eu cai em prantos, não acreditava que aquilo tinha acontecido. Quem é mãe vai entender, nenhuma mãe quer que aconteça nada com o seu filho, quer ele perfeitinho, do jeitinho que ele saiu da sua barriga e quando falam que só falta colocarmos dentro de uma bola de cristal é verdade, porque não queremos que nada fora do normal aconteça com eles.

Quando contamos para a família, a reação foi a mais tranquila possível, porque era o dente de leite, então não tinha com o que me preocupar.

No mesmo dia do ocorrido, tiramos uma foto do dente e o Paulo enviou para uma colega do curso de inglês que é dentista. Pelo telefone, ela explicou que pelo tamanho do trauma, possivelmente teríamos que fazer canal. Hããããããããã!!!!!! Canal em um dente de leite? Como fazer isso em uma criança de apenas 2 anos? Que chora horrores só de ver um simples inalador?

São nessas ocasiões que percebemos que um bom profissional faz a diferença. Conseguimos um encaixe com essa colega do Paulo, no consultório, só de colocar o avental na Rafa, começou o chororô, gente eu confesso que estava atordoada e ainda não acreditando que aquilo tinha acontecido, não querendo fazer drama, mas eu ficava imaginando o momento de fazer o canal. Durante a consulta a dentista disse que tinha quase certeza que era caso de canal e nos pediu um raio-x.

E porque eu falei que um bom profissional nessas horas faz toda diferença? Porque ele precisa tirar todas as dúvidas de uma mãe e passar segurança, muuuuita segurança! Porque estávamos falando de um bebê de 2 anos apenas e quem nem falava ainda, perguntei como seria o procedimento da anestesia, como fazer um bebê parar quieto e a resposta não foi nem um pouco convincente, daríamos um remédio para deixa-la sonolenta e foi ali que decidir não voltar mais. Não estou querendo dizer aqui que a profissional era ruim, ok? Mas talvez os detalhes do procedimento poderiam ter sido explicados de outra maneira.

Rafa não dava sinais de que sentia dor, ela comia normalmente e não havia momentos constantes de  choro, então resolvi dar um tempo, esfriar a cabeça, acreditando que o trauma tinha sido superficial, durante o seu primeiro ano na escola, fui chamada algumas vezes para conversar sobre o seu comportamento, às vezes a Rafa acordava do soninho, de repente chorando muito, ficava irritada e na hora do lanche, chorava para comer, mas nunca assimilei ao dente, hoje em dia as pessoas só faltam te deixar maluca dando possíveis diagnósticos por causa de comportamentos diferentes em relação ao que é considerado normal, então imaginamos de tudo, menos que pudesse ser dor de dente.

Meses depois, resolvi buscar a opinião de uma segunda profissional e talvez essa foi a que eu queria ouvir, a mais cômoda e aceitável e não o que era necessário fazer, com o raio-x em mãos (que não foi fácil fazer, tivemos que segurar a Rafa a força para conseguirmos uma imagem mais ou menos), a dentista nos orientou a fazer um acompanhamento de 6 em 6 meses, já que o raio-x mostrava que a bolsa que protege o dente permanente não tinha sido afetada, até aqui já haviam se passado 9 meses desde o trauma.

Conforme recomendação desta última dentista, após os 6 meses fui marcar a consulta de retorno, mas a mesma havia se mudado e perdi o contato, em um primeiro momento não me preocupei em ir atrás de outra, em relação ao dente parecia estar tudo bem. Era final de ano então resolvi deixar esta questão para o próximo ano e aproveitarmos as férias.

O ano de 2017 se iniciou, as férias acabaram, as aulas iniciaram e como todo começo de ano tudo é novidade, novos amigos, professora nova, Rafa começou o ano super bem, de repente as irritações, os choros sem motivo haviam desaparecido, começou a se socializar muito bem, a se desenvolver além das expectativas, todos perceberam a mudança.

Os meses se passaram e foi somente em Setembro do ano passado que começamos a ter sinais de que algo estava errado, o dente sangrava quando a Rafa tomava mamadeira, ou seja, quando ela fazia o movimento de sucção.

Foi assim que comecei a minha saga por um dentista, ao todo foram 5 opiniões, mas foi na última que tudo ficou mais claro pra mim, expliquei sobre o comportamento na escola, os diagnósticos equivocados e a dentista me disse – “sua filha tinha apenas dor de dente, mãe!, imagina a dor que ela sentia com este canal aberto, porque ele sempre esteve aberto e aos poucos o nervo foi morrendo, por isso de repente, sua filha simplesmente parou de chorar sem motivos.”

De verdade, choramos juntas! Era a primeira vez que estávamos nos vendo, poderia ser a segunda, terceira ou milésima vez, porém havia uma diferença neste encontro, além da profissão de dentista, este anjo é mãe também, nos abraçamos e suas palavras me soaram como um consolo pela culpa que tenho ao lembrar das tantas crises de choro da Rafa.

Como mãe também me explicou – “se fosse meu filho optaria pela extração, se não, você terá que vir aqui de 2 em 2 meses para acompanharmos de perto a situação do dente” e a cada ida seria um novo raio-x, ou seja, totalmente inviável”

Neste mesmo dia, já fizemos a simulação de como seria o procedimento, essa simulação tem um nome, mas não me lembro ao certo, o profissional simula a aplicação de uma anestesia, pingando um remédio que anestesia a gengiva, para a criança conhecer a sensação da boca anestesiada.

A dentista me orientou a marcar a cirurgia somente quando eu estivesse preparada, o sucesso do procedimento dependeria muito de mim também, Rafa não poderia em hipótese alguma perceber nervosismo e nada de lágrimas, eu teria que parecer a pessoa mais tranquila do mundo.

Gente, de verdade, nunca na minha vida pensei que passaria por isso, você tem que ver seu filho tão pequeno ainda, passando por uma situação como esta e ser forte, muito forte, não pode fraquejar, por dentro você pode estar despedaçada, mas por fora, você tem que ter força, bravura, ser anjo e ter serenidade.

No dia da cirurgia, com os meus olhos fixos no dela e segurando sua mãozinha, começamos o procedimento, outra recomendação é que eu não poderia falar com a Rafa, para ela não se confundir com as instruções da dentista e com a minha fala. Durante a anestesia, as lágrimas em seu rostinho escorriam e eu com meu olhar e apertando sua mãozinha tentava dizer “estou aqui, logo logo tudo isso acaba”.

E acabou logo mesmo! Esse anjo com mãos de fada, conduziu o procedimento com tanta calma e segurança que o resultado não poderia ser outro, depois de anestesiada, a extração foi muito rápida, Rafinha nem percebeu que já estava sem o dentinho, até o cuidado para estancar o sangue de uma forma que não a assustasse foi pensado. O motivo para a extração realmente estava lá, uma pequena infecção estava se formando, por isso o sangramento na hora das mamadas, então não tive dúvidas que essa foi a melhor decisão.

O pós-operatório teve seus cuidados, Rafa dormiu comigo por 3 dias, eu ficava observando o sangramento (que é normal dos primeiros dias) durante a noite, nada de comida quente, sorvete a vontade (essa foi a parte que ela mais gostou, rsrsrs….), após 7 dias retornamos para retirada dos pontos. A alta efetiva do procedimento aconteceu 3 meses depois.

Enfim, pude respirar aliviada, a preocupação dali em diante era se a Rafa iria se sentir bem sem o dentinho, mas foi tudo muito tranquilo, houve muita conversa antes, ela sabia que ficaria com uma “janelinha” e o dentinho que estava dodói ficaria dentro do seu álbum dental. Ela nunca sentiu complexo por não ter o dentinho.

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