Algo do universo, mágico, transcendental, ou sei lá o nome que posso dar para isso aconteceu comigo, eu pensei “como vou apresentar meu namorado para ele? Não quero apresentar como namorado! Bom, vou simplesmente dizer “este é o fulano”, deixo ele deduzir quem seja”.
Ao assinar os papéis da liberação percebi que a configuração estava errada, era inferior ao que eu tinha comprado, foi quando o Paulo descobriu que a pessoa do controle de memórias das máquinas do leilão havia feito uma alteração na planilha não se atentando que ele havia alterado a configuração de TODAS as máquinas vendidas.
Na garagem mesmo, o Paulo abriu a CPU de cada computador, tirou o pente de memória que estava errado e bravo, mas muito bravo mesmo, pensem em uma pessoa nervosa, saiu andando com os dois pentes na mão e disse “já volto”, eu simplesmente larguei o ex lá parado e fui atrás do Paulo.
Fomos dialogando:
Eu: olha eu não queria dar trabalho, sei que a retirada não era hoje!
Paulo: ainda bem que você veio antes, imagina eu entregar 200 máquinas e as pessoas descobrirem em casa que estão com os equipamentos errados!
Eu: sua mão está sangrando!
Paulo: sim, cortei na lata da tampa da CPU.
Nesse instante eu não estava entendendo nada do que estava acontecendo comigo, a minha mão foi em direção a mão dele, no machucado, a impressão era que eu queria cuidar, fazer aquele sangue parar, não cheguei a encostar, nem nada, foi um movimento de milésimos de segundos, acho que ele nem percebeu nada e o ex lá esperando, nem olhei para trás.
Tudo foi resolvido! e o ex levou os computadores embora. Eu tinha certeza que ele levaria os dois computadores para a casa dele, afinal um dos irmãos trabalhava na área de TI, eu não entendia nada de configuração de sistema operacional, o ex sabia disso, então era mais do que óbvio que ele me entregaria o computador pronto para ser usado. Ilusão a minha! Chegando em casa da faculdade, o computador estava no chão, no meio da sala. Minha mãe sem entender nada, nem mexeu no equipamento, disse que deixou para eu ver exatamente do jeito que o ex deixou. Na mesma hora liguei para ele, discutimos muito e entendi que ele já não fazia questão nenhuma de ajudar.
Bom, a fila anda né? Só lembrando que faziam 5 anos que estávamos juntos e a relação não ia nada bem, por diversos motivos.
No dia seguinte, fui até a área de TI pedir ajuda! Roxa de vergonha, expliquei para o Paulo que o computador estava formatado e eu não tinha ideia de como instalar o Windows. Ele me emprestou um CD, disse que como a interface do Windows era interativa eu conseguiria fácil.
Mas não deu certo! A instalação acusava muitos erros, fiquei dias sem usar o computador por causa disso e durante todos esses dias fomos conversando sobre o que poderia ser. Ele se ofereceu para ir até a minha casa, já que eu não tinha como levar o computador de volta e em casa deu tudo certo.
Eu sentia vontade de conversar com o Paulo a todo momento, queria ficar indo até aquela baia de TI só para ouvir a voz dele, mas eu ainda não entendia nada do que estava acontecendo. Comecei a inventar outras coisas para o Paulo arrumar, quase todos os dias eu aparecia na mesa dele.
Na saída do trabalho eu pegava um ônibus fretado até a faculdade, eu ia conversando todos os dias com uma amiga, ela sabia dos problemas que eu vinha enfrentando com o ex, mas um certo dia, ela comentou que eu estava diferente, tinha o semblante feliz!
Eu contei sobre a história do leilão, da configuração do computador e da vontade de querer pedir ajuda, não disse que estava apaixonada, nem nada, aliás eu ainda não tinha me dado conta disso, eu disse que a voz dele me confortava, afinal a gentileza dele me encantava. A resposta dela foi um sorriso desconfiado.
Até que um dia uma amiga de trabalho do Paulo, comentou “Paulo, ela não pára de vir aqui, certeza que ela tem outras intenções” Paulo me contou que não achava isso, mas ela insistiu que sim e ainda frisou “Nós mulheres sabemos reconhecer quando tem algo no ar”.
Até que em uma dessas idas até a baia do Paulo, ele estava com uma pasta aberta no computador, olhei para a tela e percebi que eram pastas com o nome de vários cantores e bandas, a primeira que eu consegui ler, estava escrito “Alanis Morissette”, não vou conseguir lembrar o motivo da ida até a baia, até porque o assunto fluiu sobre as músicas, perguntei se ele gostava da Alanis, disse que sim, mostrou todas as músicas da pasta e colocou para eu ouvir a primeira da lista, era a música do começo do post (parte 1), naquele instante, o coração bateu mais forte, as pernas estremeceram e concluí: – estou apaixonada, perdidamente apaixonada, completamente apaixonada.
A conversa se estendeu um pouco mais sob o som de Ironic e descobrimos coisas em comum:
– sobrinhas com o mesmo nome;
– viajávamos para a mesma praia sempre com a família;
– veio do interior para tentar a vida em São Paulo e desembarcou na rodoviária dia 08 de Fevereiro de 2000, dia do meu aniversário.
Não contei para ninguém sobre a minha paixão descoberta, minha amiga de fretado continuou a afirmar que eu andava feliz demais! E comentou que eu poderia estar apaixonada.
Nesse período fiz as provas finais na faculdade, a cirurgia do coração do meu pai foi marcada para o começo do mês de Novembro, depois da briga com o ex, voltamos a nos falar, mas só na faculdade, porém era mais um oi e como vai? do que namoro mesmo e continuei a me distanciar cada vez mais.
Até que um dia na minha mesa de trabalho, uma colega que sentava ao meu lado me chamou para ver a tela do computador dela. Era um e-mail do Paulo perguntando se eu namorava, como ninguém desconfiava de nada, ficou surpresa com a pergunta, disse que ele era ousado demais perguntando isso e responderia em bom tom curto e grosso que sim.
Na hora segurei a mão dela e disse: “não”, responde que tenho namorado ainda, mas a relação está no fim, surpresa, ela respondeu do que jeito que pedi e depois contei tudo o que estava acontecendo. Tirei a minha foto com o ex da mesa, guardei na bolsa para levar para a casa.